Adolescência e Escuta Ativa: um outro olhar possível
- anaritanegri
- 5 de mai.
- 3 min de leitura

No cenário atual, em que muitas vezes o adolescente é visto sob lentes de crítica ou desconfiança, propomos um outro olhar possível: aquele que reconhece o jovem como sujeito ativo, capaz de contribuir para a sua história e para a construção social.
A escuta ativa é tão importante na relação com o jovem que inspirou o Papa Francisco a escrever a exortação apostólica Christus Vivit, onde ele destaca a importância de escutar verdadeiramente o jovem, reconhecendo sua voz, suas críticas e sua busca por sentido. É com esse propósito que o Papa afirma:
"Muitos jovens sabem ser críticos em relação aos erros da Igreja e não hesitam em apontá-los, mas querem uma Igreja que saiba escutar, que reconheça humildemente os seus erros e que saiba dar espaço para que os jovens sejam protagonistas."(Christus Vivit, n. 41)
Essa escuta ativa e respeitosa não apenas fortalece a relação entre gerações, mas também permite que o adolescente ocupe seu lugar como agente de transformação e crescimento, superando estereótipos e construindo novos sentidos para seu percurso de amadurecimento.
Escutar para compreender: a formação da identidade
Ao refletirmos sobre a formação da identidade na adolescência — marcada pela busca de referências, pela criação de linguagens próprias e pela formação de grupos — percebemos que a escuta ativa se revela como instrumento essencial.
Pais e educadores são convidados a compreender essas manifestações não como ameaças ou "problemas", mas como expressões legítimas da construção de si. Nesse sentido:
"A escuta ativa permite que o adulto reconheça, nas linguagens próprias dos adolescentes, a potência criadora da formação identitária, sem apressar julgamentos ou impor modelos prontos."
Escutar, aqui, é reconhecer que o adolescente é portador de um projeto em construção, que precisa ser acolhido e compreendido para que se desenvolva de maneira saudável.
A escuta como fundamento do amadurecimento saudável
Ao final, retomamos a importância da escuta como prática constante para favorecer o crescimento dos adolescentes. Escutá-los verdadeiramente é dar espaço para que assumam suas responsabilidades de forma madura e consciente, acolhendo seus desafios como parte essencial do processo de amadurecimento.
Como nos inspira o Papa Francisco:
"A própria escuta dos jovens levou a Igreja a perceber a necessidade de uma mudança de mentalidade, particularmente no que diz respeito aos jovens."(Christus Vivit, n. 7)
Assim:
"Quando escutamos ativamente o adolescente, permitimos que ele próprio encontre caminhos para sua responsabilidade e autonomia. Escutar é, portanto, acreditar no futuro que ele representa."
A adolescência, frequentemente estigmatizada como um período de conflitos e crises, pode ser compreendida sob uma perspectiva mais rica e promissora: a de um tempo de construção, de busca e de criação de novos sentidos para a existência.
Nesse percurso, a escuta ativa se torna um instrumento fundamental, permitindo que o jovem se reconheça protagonista de sua própria história, e oferecendo à sociedade a possibilidade de se renovar a partir da potência criadora da juventude.
Escutar, nesse contexto, é mais do que um gesto de acolhimento: é um compromisso com a transformação, com o presente e com o futuro que cada jovem carrega em si.
Sugestões de Leitura
· Aberastury, Arminda. A Adolescência Normal. Porto Alegre: Artmed, 1989.
· Delory-Momberger, Christine. A construção de si pela narrativa de si: a aposta autobiográfica nas práticas de formação. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 34, n. 2, p. 297-312, 2008.
· Féres-Carneiro, Terezinha. Famílias e Adolescências: Vínculos, Conflitos e Comunicação. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.
· Francisco, Papa. Christus Vivit – Exortação Apostólica Pós-Sinodal aos jovens e a todo o povo de Deus. Vaticano, 2019.Disponível em: https://www.vatican.va
· UNESCO. Juventudes e Políticas Públicas: um panorama das juventudes no Brasil. Brasília: UNESCO, 2013.
· Vygotsky, Lev S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
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