O envelhecimento é um tema atual e recorrente na clínica psicológica. Muitas vezes, na minha experiência pessoal também me deparo com perguntas como: "Você ainda está trabalhando? Não pensa em curtir a vida?" E, ao ouvi-las, penso no quanto eu curto o meu trabalho — escutar pessoas, ajudá-las a viver com mais leveza. Também aprecio estudar e aprender mais a cada dia. Isso, para mim, é "curtir a vida".
No entanto, não é o envelhecimento em si que provoca ansiedade, mas o olhar social que o cerca. Vivemos em uma cultura que enaltece a produtividade e glorifica o novo, frequentemente tratando o que é velho como descartável, sem utilidade. Nesse contexto, o envelhecer pode se tornar uma experiência angustiante, algo que muitos buscam negar a qualquer preço.
No filme “The Substance”, dirigido por Sarah Appleton, produzido por Christian Hall, e como atriz principal Demi Moore, essas questões ganham vida. A trama aborda o impacto de uma substância revolucionária que desafia o conceito de envelhecimento humano. A narrativa explora os dilemas éticos, emocionais e filosóficos que emergem quando os personagens enfrentam a possibilidade de acelerar ou interromper o processo de envelhecimento. Mais do que isso, o filme convida o público a refletir sobre o impacto dessas escolhas na identidade e no sentido de existir.
Por Que “The Substance” é Impactante?
O filme é uma obra profunda e visceral, que aborda temas universais como envelhecimento, ansiedade e a busca por identidade. Ele desafia o espectador a confrontar perguntas difíceis: “O que define o valor de uma vida? Até onde estamos dispostos a ir para evitar o inevitável? ” Essas questões são tratadas em um contexto que mistura ciência, ética e emoção, tornando a obra um espelho das fragilidades e excessos de nossa cultura contemporânea.
Vivemos em uma era em que avanços tecnológicos e científicos prometem "soluções milagrosas" para questões como a mortalidade e o envelhecimento. “The Substance” questiona esses avanços e os apresenta como parte de um debate maior, que inclui ansiedade, aceitação e a essência da condição humana.
Envelhecimento e Ansiedade: Um Panorama
Envelhecer é um processo natural, mas frequentemente carregado de ansiedades relacionadas à perda de vitalidade, relevância social e identidade. No mundo contemporâneo, a obsessão pela juventude exacerba essas ansiedades, criando uma visão que trata os idosos como descartáveis.
O filme simboliza essa tensão, ao dramatizar o desejo de escapar da mortalidade. Ele também expõe o conflito interno que surge entre o desejo de permanecer jovem e a aceitação do envelhecimento como parte da vida. Esse conflito reflete uma cisão do "eu", um desajuste entre aquilo que somos e o que desejamos aparentar ser.
A Divisão do Eu e a Sociedade do Descartável
No filme, a substância revolucionária gera mais do que mudanças físicas; ela provoca uma divisão interna nos personagens, um conflito entre valores pessoais e a busca por soluções rápidas para o declínio natural.
Nossa sociedade amplifica essa divisão ao marginalizar os idosos, tratando-os como se sua contribuição à vida tivesse uma data de validade. Essa visão reflete uma cultura que valoriza produtividade e aparência em detrimento da experiência e sabedoria acumuladas ao longo da vida.
Ansiedade Existencial: Uma Busca por Sentido
A ansiedade diante do envelhecimento não se limita a questões estéticas ou físicas. Ela frequentemente está ligada a uma angústia existencial mais ampla, que questiona o propósito da vida e o significado do "ser".
“The Substance” nos lembra que nenhuma solução tecnológica ou científica pode eliminar as angústias humanas. Pelo contrário, a busca pela juventude eterna pode levar a uma alienação ainda maior de quem realmente somos.
O que podemos dizer para finalizar essa reflexão sobre o filme “The Substance” é que ele não oferece respostas fáceis, mas provoca reflexões fundamentais sobre o tempo, a mortalidade e como lidamos com esses conceitos. O filme nos convida a encarar o envelhecimento como uma parte integral da vida, não como algo a ser evitado a qualquer custo.
Para aqueles que buscam compreender melhor as ansiedades humanas, o filme é um convite poderoso para explorar não apenas o futuro do envelhecimento, mas também o presente do que significa ser humano.
Em artigos futuros, pretendo abordar não soluções simplistas, mas caminhos e experiências de comunidades que, ao valorizarem o ser humano, podem transformar nossa visão sobre o envelhecer — tanto o nosso quanto o das pessoas ao nosso redor.
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