Dezembro chega, e com ele vem uma mistura de sensações: alegria, nostalgia, pressa e, para muitos, ansiedade. O Natal e o Ano Novo são mais do que datas no calendário; eles nos desafiam a lidar com o tempo — esse conceito tão abstrato e, ao mesmo tempo, tão concreto em nossas vidas. Enquanto os dias correm em contagem regressiva, somos confrontados com balanços do que passou, expectativas para o que está por vir e a pressão de viver o presente de maneira significativa. Mas por que sentimos tudo isso com tanta intensidade? E o que o tempo tem a ver com nossa saúde mental?
Ansiedade Temporal A ansiedade relacionada ao tempo, ou ansiedade temporal, é aquela sensação de que o tempo está escapando por entre os dedos. Pesquisas em Psicologia mostram que nossa relação com o tempo é profundamente subjetiva. Autores como Philip Zimbardo e John Boyd, em seus estudos sobre a perspectiva temporal, explicam que nosso foco no passado, presente ou futuro pode influenciar diretamente como nos sentimos. Durante as festas de final de ano, essas perspectivas se sobrepõem: o passado traz memórias, boas e ruins; o presente cobra produtividade e alegria; e o futuro exige planos e resoluções. Não é surpresa que essa época do ano seja emocionalmente carregada.
Henri Bergson, de quem falamos no artigo, um dos grandes pensadores do tempo, oferece uma reflexão ainda mais profunda. Para ele, o tempo real não é aquele marcado pelo relógio, mas o que chamamos de duração: uma experiência subjetiva, moldada por nossas emoções, memórias e expectativas. É por isso que dezembro, para alguns, parece voar, enquanto para outros demora a passar. O tempo é vivido de forma única por cada pessoa.
O Ritual das Festas e a Pressão pelo Encerramento O socólogo Anthony Giddens explica que rituais como o Natal e o Ano Novo têm a função de dar forma à fluidez do tempo. Eles criam uma sensação de ordem, ajudando-nos a organizar o caos das nossas experiências diárias. Mas essa necessidade de marcar um final — e começar de novo — também pode gerar pressão. Quem nunca sentiu a urgência de “fechar o ano” com chave de ouro? De resolver pendências, cumprir metas ou, pelo menos, planejar algo novo? Quando a lista de “o que fazer” parece maior do que o tempo disponível, a ansiedade aparece.
Essa pressão está intimamente ligada ao que os psicólogos chamam de necessidade de encerramento. Queremos concluir ciclos, mesmo que eles sejam arbitrários, porque isso nos dá uma sensação de controle. No entanto, essa busca pode ser exaustiva, especialmente quando não conseguimos atingir as expectativas que criamos para nós mesmos.
Como Resignificar o Tempo durante as Festas Bergson nos ensina que o tempo não é apenas algo que medimos, mas algo que sentimos. Essa perspectiva pode ser libertadora. Em vez de tentar encaixar todas as experiências dentro dos limites de um calendário, podemos nos concentrar na duração — aquele tempo subjetivo que é verdadeiramente nosso. Isso significa acolher o momento presente sem a obrigação de fazer dele algo perfeito ou memorável.
Estudos também mostram que práticas como mindfulness e gratidão podem ajudar a aliviar a ansiedade temporal. Estar presente, sem ficar preso ao passado ou ansioso pelo futuro, permite que experimentemos as festas de forma mais autêntica. Em vez de pensar em “o que não deu tempo” ou “o que precisa ser feito”, podemos nos perguntar: Como posso vivenciar este momento da maneira mais plena possível?
As festas de final de ano nos desafiam a confrontar nossa relação com o tempo. Elas nos lembram de que o passado, o presente e o futuro estão interligados, moldando nossas experiências emocionais. Mas também nos oferecem uma oportunidade: a de ressignificar o que significa “fechar um ciclo”. Ao compreender o tempo não como algo que nos controla, mas como algo que vivemos, podemos transformar o Natal e o Ano Novo em momentos de conexão, reflexão e, sobretudo, acolhimento — de nós mesmos e dos outros.
Quando dezembro vier, talvez o maior presente seja dar a si mesmo o tempo de simplesmente ser. Afinal, como nos lembra Bergson, o tempo é mais do que aquilo que vemos passar; é aquilo que sentimos viver.
Referências Bibliográficas:
1. Bergson, H. (1889). Ensaio sobre os Dados Imediatos da Consciência.
2. Bergson, H. (1907). A Evolução Criadora.
3. Giddens, A. (1991). Modernidade e Identidade Pessoal: O Eu e a Sociedade na Era Moderna. Stanford University Press.
4. Zimbardo, P. G., & Boyd, J. N. (1999). Colocando o Tempo em Perspectiva: Uma Métrica Válida e Confiável de Diferenças Individuais. Journal of Personality and Social Psychology, 77(6), 1271–1288.
5. Zimbardo, P. G., & Boyd, J. N. (2008). The Time Paradox: The New Psychology of Time That Will Change Your Life. Free Press.
6. Kabat-Zinn, J. (1990). Full Catastrophe Living: Using the Wisdom of Your Body and Mind to Face Stress, Pain, and Illness. Delta.
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